As crianças e adolescentes e as redes sociais: relação entre autoestima e privacidade

Em um mundo onde a utilização de redes sociais é crescente e as crianças são instigadas pela sociedade e pela própria família a se inserir precocemente no universo digital, compartilhando sua intimidade e deixando de exercer seu direito à privacidade, nos deparamos dia após dia com notícias de jovens depressivos, com transtornos alimentares, agressivos e, que muitas vezes tiram a própria vida, em virtude do viés comparativo de um padrão de vida e beleza imposto pelas redes sociais. Entendemos que somente o fortalecimento da autoestima infantil por parte da família é capaz de proteger as nossas crianças das armadilhas impostas pelo universo digital.

Com o aumento progressivo do uso das redes sociais por crianças e adolescentes, aliado à cultura de convergência das mídias digitais, cresce o alerta sobre o papel dos pais e responsáveis na construção da autoestima dos jovens como estratégia de proteção contra os riscos da superexposição online.


I. Utilização de redes sociais por crianças e adolescentes no Brasil

O Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio da pesquisa TIC Kids Online Brasil, revelou que, em 2021, 88% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos que usam a internet possuíam ao menos um perfil em redes sociais.


II. Impacto das redes sociais no comportamento

Segundo levantamento publicado pelo The Guardian e realizado pela organização britânica de saúde mental Stem4, três em cada quatro crianças de até 12 anos sentem constrangimento em relação à própria aparência e não gostam do próprio corpo. Além disso, cerca de 70% dos entrevistados afirmaram que as redes sociais provocam estresse, ansiedade ou depressão.


III. Estratégia de comunicação nas mídias sociais

As redes sociais se consolidaram como ferramentas poderosas para conquistar e conhecer o público, funcionando como canais diretos para a propagação de produtos, marcas e opiniões.

Dentro da chamada cultura de convergência, definida por Jenkins (2011) como o conjunto de mudanças tecnológicas, culturais e sociais que afetam a circulação de conteúdos, as mídias digitais passam a reforçar padrões de aparência física e estilo de vida, criando desejos e estereótipos.

A figura do influenciador digital exemplifica esse cenário: ele conquista a confiança de seu público e divulga padrões compatíveis com as marcas e produtos que anuncia, usando discursos midiáticos persuasivos. O Wall Street Journal repercutiu, em setembro de 2021, o caso Facebook Papers, que revelou que a Meta, além de adotar estratégias para manipular usuários, tinha conhecimento sobre os efeitos nocivos de suas plataformas, especialmente sobre meninas e adolescentes.


IV. O papel da família na construção da autoestima

Embora as redes sociais tenham aspectos positivos — como ampliar interações, estimular a criatividade e oferecer espaço para expressão de opiniões —, a superexposição da vida privada pode gerar vulnerabilidade. Entre os riscos, estão aliciamento, cyberbullying, pedofilia, uso indevido de dados pessoais e até crises de identidade.

Muitas vezes, jovens e crianças, em busca de aceitação e “likes”, compartilham fotos, vídeos e informações sensíveis, expondo-se a perigos.

A autoestima, definida por Dini (2001) como a percepção de valor que um indivíduo tem de si, não se constrói apenas de forma interna — é resultado também das interações com a família e a sociedade. Por isso, pais e responsáveis exercem papel decisivo ao reforçar, diariamente, comportamentos e atitudes que transmitam afeto, reconhecimento e valorização individual.

Quando crianças e adolescentes se percebem como únicos e se amam, tornam-se mais resilientes às adversidades e menos suscetíveis à influência negativa de críticas, provocações e padrões impostos pelas redes sociais. Assim, a relevância das curtidas e da exposição tende a diminuir.


Considerações finais

Crianças amadas, acolhidas e incentivadas, que têm suas qualidades reconhecidas e vivem em um ambiente de diálogo familiar, desenvolvem uma autoestima sólida. Isso as torna menos vulneráveis à imposição de padrões de beleza e consumo definidos pelas mídias digitais.

O reforço da autoestima reduz a necessidade de autopromoção e aceitação via redes sociais, diminuindo o compartilhamento de conteúdos íntimos e preservando a privacidade. Pais e responsáveis devem supervisionar, orientar e manter diálogo próximo, para que os filhos reconheçam seu próprio valor e estejam protegidos das armadilhas sociais, criminais e emocionais associadas à auto exposição digital.

Leia mais em: ARTIGO – AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES E AS REDES SOCIAIS

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